Facebook e sua influência na construção do indivíduo
Emili Sabrina Ribeiro Silva[1]
Resumo: A presente exposição tem por propósito revelar a interferência da ferramenta digital Facebook na vida cotidiana de seus usuários, através de dados gráficos coletados virtualmente no período de 18 de junho a 23 de junho de 2017, totalizando 110 horas. Esta foi desenvolvida através de um webquest contendo 10 questões objetivas. O seguinte documento explicitará em seu decorrer estas interferências e suas consequências.
Palavras-chave: Redes sociais. Facebook. Usuários. Webquest.
Introdução
As redes sociais são teias virtuais que conectam seus usuários através de plataformas eletrônicas diminuindo fronteiras, atuando como forma de interação entre pessoas, sendo usadas como difusoras de comunicação e informação. Neste trabalho usaremos como base de pesquisa a plataforma gratuita criada em 2003 por Marc Zuckerberg denominada Facebook, que sofreu maior expansão em 2006 com a permissão de acesso a qualquer utilizador com idade superior a 13 anos e que tem a funcionalidade de facilitar relacionamentos interpessoais, aumentando sua dimensão formando grupos, fomentando debates. Sua principal ferramenta que gera essas conexões é chamada Feed de Notícias, que baseado no seu perfil de utilização o próprio Facebook cria um algoritmo seletivo personalizado onde tudo é automaticamente formatado para a satisfação de seu usuário, assim a maneira como o sujeito vê o mundo a sua volta e seu ciclo social é afetada. Essa alteração nas relações coletivas é bem definida pelo youtuber[2] Felipe Castanhari como bolha social em um[3] dos vídeos de seu canal.
[1] Emili Sabrina Ribeiro Silva, acadêmica do curso de História na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul campus de Nova Andradina-MS, dissertação de artigo científico como atividade avaliativa na disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação ofertada pela Professora Mestra Camila Comerlato Santos.
Facebook e suas interferências na vida do ser humano
A raiz dessa pesquisa surgiu quando em uma aula de Tecnologias da Informação e Comunicação me foi proposto um seminário expositivo com o tema Facebook, diante dessa proposta surgiu então a seguinte dúvida: O quanto o Facebook interfere na vida das pessoas? com o intuito de encontrar a resposta para tal questão decidi formular um webquest[4] de forma simplificada que apontasse dados através de gráficos. Assim que elaborado o formulário foi publicado em meu Feed de Notícias, no prazo de 110 horas foram recebidas 92 respostas de usuários de ambos os sexos.
No gráfico 1 podemos perceber uma diferença quase mínima no número de usuários de acordo com o sexo que responderam ao questionário, o número de mulheres é 17,4% maior que dos homens. Mesmo que o número de mulheres a responder seja maior, não notamos diferença tão gritante. No gráfico abaixo podemos ver o quadro geral.
[1] É aquela pessoa que faz vídeos para o YouTube. Disponível em:
[1] Para entender melhor sobre o termo segue o link do vídeo Disponível em:
[1] A webquest é uma metodologia de pesquisa orientada da web, onde quase todos os recursos utilizados para a pesquisa são provenientes da própria web. Disponível em:
Gráfico 1 - Sexo dos usuários que responderam ao webquest
Fonte: Dados da pesquisa
Em seguida era preciso saber a idade destes utilizadores para baseado em seu perfil, hipoteticamente determinar o tamanho da interferência que a rede social traz em sua vida cotidiana. O gráfico 2 tem uma grande dissemelhança entre as porcentagens das idades, contudo, podemos perceber que as redes sociais não é majoritariamente dominado por jovens, apesar dos adolescentes estarem em maior escala, os adultos também garantem seu espaço como podemos ver a seguir.
Gráfico 2 - Faixa etária dos usuários que responderam o webquest
Fonte: Dados da pesquisa
Como a principal função do Facebook é diminuir a distância entre as pessoas, seja ela geográfica ou não e fazer com que o contato entre essas pessoas seja instantâneo proporcionando também a possibilidade de conversar e interagir com mais de um amigo, satisfazendo assim seu usuário e garantindo a ele um maior conforto, pois independentemente de onde ele esteja, poderá continuar conectado com essas pessoas (obviamente onde houver rede de internet). A partir daí começa a surgir uma classificação desses tipos de amizade, as virtuais e as reais, sendo as virtuais não restritamente amigos dos quais essa pessoa só se relaciona via rede virtual, mas também aqueles que ela não mantém contato na comunidade física apesar de os ter por perto, como por exemplo aquele vizinho de bairro que ela conhece sabe que existe e que está próximo, mas simplesmente não tem interesse em manter contato real com ele mas o tem como amigo em sua rede social, e os amigos reais, que são aqueles que ela se relaciona fisicamente, no dia-a-dia e também na rede, ou não.
De acordo com as respostas do webquest temos no gráfico 3 os indicativos da porcentagem de amigos virtuais e reais, no senso geral.
Gráfico 3 - Usuários acreditam ter mais amigos reais ou virtuais
Fonte: Dados da pesquisa
O que percebemos é que mais da metade dos usuários respondentes do questionário acreditam ter mais amigos reais do que virtuais. O que comprovamos quando analisamos o gráfico 4, onde a maioria das pessoas dizem manter contato com seus amigos virtuais na vida social, sendo assim deixam de ser virtuais por não serem exclusivamente amigos da rede.
Gráfico 4 - Frequência de contato real com os amigos da rede social
Fonte: Dados da pesquisa
Seguindo a mesma ideia as próximas duas perguntas gira em torno do Feed de Notícias, onde os usuários trocam informações, publicam fotos e textos, e compartilham dos mesmos e que através de curtidas ou reações demonstram seu grau de interesse naquela publicação. A função era descobrir com qual frequência o usuário interage com seus amigos e divide sua vida e atividades com estes no meio virtual.
Gráfico 5 - Curtidas e reações diárias dos usuários
Fonte: Dados da pesquisa
Gráfico 6 - Atividades diárias dos usuários em sua linha do tempo
Fonte: Dados da pesquisa
Podemos através destes dois gráficos concluir que os usuários interagem mais do que compartilham de suas vidas, mas apesar desse pouco interesse em expor sua vida existe uma certa dependência diária da rede, como se esta preenchesse lacunas vagas no íntimo de seu usuário. No próximo gráfico (gráfico 7) a síntese é de que 57,6% dos usuários passam diariamente uma hora ou mais do seu tempo em suas redes sociais, sendo destes, 15,2% que dizem passar de quatro a oito horas diárias em nela, o que pode preocupar, pois estas pessoas passam mais de Œ das suas 24 horas diárias ligados a um computador, smartphone, tablete ou qualquer outro aparelho que os possibilite estar conectado ao Facebook e outras plataformas virtuais online. Esse uso excessivo dos aparelhos eletrônicos e das redes sociais podem trazer a longo prazo diversos problemas de saúde física e mental e nas relações pessoais e interpessoais. Diversos estudos comprovam os malefícios que esses hábitos trazem na vida de seu utilizador, como cito a seguir o trecho de uma matéria da ISTOE, que traz reflexões de diversos especialistas no assunto.
O vício em redes sociais é forte como o da dependência química. Como o viciados em drogas, que com o tempo precisa de doses cada vez maiores de uma substância para ter o efeito entorpecente parecido com o obtido no primeiro contato, o viciado em Facebook também necessita se expor e ler as confissões de amigos com cada vez mais frequência para saciar sua curiosidade e narcisismo. Sintomas de crise de abstinência, como ansiedade, acessos de raiva, suores e até depressão quando há afastamento da rede, também são comuns. (LOES, 2012)
Gráfico 7 - Tempo diário gasto nas redes sociais
Fonte: Dados da pesquisa
Outro dado importante a ser analisado que acontece diariamente e que muitos de nós já presenciamos ou até mesmo praticamos é a atitude de ignorar uma pessoa que está com você fisicamente, para navegar no mundo das redes, e esse também é um fator importante a ser analisado, pois interfere consideravelmente na vida cotidiana das pessoas, podendo prejudica-los com a família, conjunge e colegas de trabalho ou atividades. Ao salientar os dados do gráfico podemos perceber mais da metade dos respondentes (60,9%) assumiram ignorar no prazo de uma semana, de uma a mais de dez pessoas para usar os aparelhos que possibilitam acesso a plataforma.
Gráfico 8 - Total de vezes que usuários ignoraram pessoas para o uso da rede
Fonte: Dados da pesquisa
O que parece hoje ser um dos problemas mais visíveis que alteram o comportamento das pessoas é o fato de estarem sem sinal da rede de internet, o que automaticamente os impede de fazer o acesso as redes sociais. Uma das perguntas do webquest tinha o intuito de saber qual sentimento teria esse utilizador quando estava em estado off-line[5] (sendo esse estado não determinado por ele, mas por forças exteriores), e o gráfico a seguir aponta as porcentagens de acordo com o sentimento escolhido, podendo o usuário apenas escolher uma das alternativas.
[1] É um termo da língua inglesa cujo significado literal é fora de linha e também pode qualificar alguma coisa que está desligada ou desconectada. Disponível:
Gráfico 9 - Sentimento do usuário ao estar off-line
Fonte: Dados da pesquisa
Como podemos perceber a maioria das pessoas se diz sentir entediada quando estão fora das redes sociais, mas o problema vai mais a fundo quando paramos para buscar informações comportamentais de uma pessoas com abstinência virtual, em uma pesquisa rasa você encontra diversos fatores que podem afetar quase irreversivelmente a personalidade e auto confiança dessas pessoas. Em uma discussão para a matéria sobre o prejuízo das redes sociais nas relações familiares e de amizade para uma revista Sylvia Van Enck[6] diz que o vício não é definido pela quantidade de horas que a pessoa passa conectada, mas sim pela maneira com que a pessoa reage quando está sem o acesso e acrescenta:
Se por falta de energia ou por problemas de conexão a pessoa fica muito agressiva, transtornada, como se o mundo fosse acabar, ou também quando a pessoa não se dá conta do tempo que ela despende no aparelho. Ao pensar que vai abrir o celular só para ler uma postagem e passa ali horas sem se dar conta, depois tenta se controlar e não consegue, como se fosse um vício em drogas. (ENCK, 2017)
Diante dos acontecimentos por conta das redes sociais recentemente foi criado um termo para definir a dependência do celular, este é chamado de nomofobia, que determina um comportamento moderno e que pode ser perigoso.
O termo refere-se ao desconforto apresentado por indivíduos quando estão fora de contato com seus aparelhos celulares, isto é, pelo medo de tornarem-se tecnologicamente incomunicáveis. A força desta ligação é tão grande que algumas pessoas, quando longe de seus aparelhos, descrevem sentir muita ansiedade ou mal-estar enquanto outros, inclusive, chegam a apresentar um sintoma chamado toque fantasma (dizem que ouviram seu telefone tocar) ou ainda dizem ter sentido que o mesmo vibrou (por ter recebido alguma mensagem de texto) sem que isso tenha, de fato, ocorrido. (NABUCO,2014)
Com a voz os usuários responderam de acordo com suas próprias perspectivas, se acreditavam que a rede social influenciava de alguma forma na vida das pessoas, das 92 respondentes 42,2% acredita que sim. Apesar de o número não ser grande, podemos analisar que ela interfere sim, direta e indiretamente, apesar de algumas pessoas terem plena consciência disso a grande maioria não se atenta ao tipo de informação que lá deposita e nem com a maneira que deixa a rede interferir na sua vida, talvez, a grande maioria, como todo dependente em algo, está mais preocupada com sua satisfação pessoal, independente do resultado final adquirido.
Por fim, como se fosse um bônus, trago aqui os dados de quantas pessoas costumam levar seus smartphones para a cama e o foi comprovado que mais da metade das pessoas o levam, e sabemos que não é simplesmente levar, mas também usá-lo na cama, quando na verdade deveriam usar aquele momento para descansar e além disso também coloco a média de horários em que essas pessoas vão dormir ao levarem o celular para cama e 42,9% das pessoas disseram dormir entre as 23:00 e 2:00 horas. Somente com esse dado podemos frisar, que a rede não só interfere como faz com que as pessoas acabem incluindo ela demais na sua vida pessoal, e como podemos ver a seguir nos dois gráficos, que as pessoas dependem da mesma até na hora do descanso, tendo sua noite de sono prejudicada e fazendo com que a ansiedade aumente para acordar e repetir toda rotina novamente. O doutor Thiago Schwantes explica como o uso do celular pode trazer problemas de saúde a longo prazo:
Além dos efeitos da claridade, o contato com os eletrônicos também reduz o tempo de sono das pessoas. Com o celular, o cérebro fica ativado, deixando a pessoa agitada e sem vontade de dormir [...] Dormir mal por uma noite ou duas pode não trazer graves consequências. Porém, com o passar do tempo, o sono de baixa qualidade pode ser responsável por problemas sérios [...] entre eles, estão: sonolência excessiva, baixa produtividade, mudanças de humor e irritabilidade, apneia do sono. Além de baixa imunidade, diabetes tipo 2 e obesidade. (SCHWANTES, 2017)
Conclusão:
Com todo material aqui apresentado, dados gráficos, citações e dissertação, podemos concluir que a rede social tem um papel de significativa importância na vida do indivíduo e que desta forma ela traz seus prós e contras. O tamanho da interferência não pode ser medida, sabendo que ela é diferente de pessoa para pessoa, mas sabemos que ela existe e é real, também vimos que ela prejudica relações pessoais e interpessoais, traz danos à saúde física e mental e pode causar dependência. O que quero através dessas informações lançadas é gerar uma reflexão, para que a partir de então as pessoas passem a olhar como telespectadoras também e não só como atores dessa rede, que passem a analisar como estão agindo de acordo com ela e que também passem a analisar o tipo de informação que nelas publicam.
Sabendo da existência de algoritmos seletivos personalizados refletir sobre sua opinião, analisar seu ciclo social e passar a ver o mundo com outros olhos e assim não se deixar influenciar inteiramente pela rede, que possa assim aceitar o diferente e buscar mais contato real com as pessoas e prezar por essa presença humana próxima a si. Não quero aqui colocar a rede como vilã do mundo moderno, reconheço que ela traz x benefícios ao ser humano, mas fomento a consciência individual e mútua, para assim filtrar as informações e discutir com os amigos a respeito disso, visando o bem-estar da sociedade.
Aqui trago um apelo pessoal, não deixemos perder a essência da amizade e nem da vida, mostremos a nossas crianças e jovens que existe um mundo real, bem diferente do virtual e que pode trazer a ele diversas oportunidades e satisfações e que não sejamos nós protagonistas desse capitalismo digital e virtual.
REFERÊNCIAS
NABUCO, Cristiano. Você está dependente do seu telefone celular?.2014. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2017
Autor desconhecido. Nossa Missão. [S.D]. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2017
Autor desconhecido. Youtuber.2015. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2017
RIBEIRO, Emili. O uso das redes sociais. 2017. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2017
LOES, João. Viciados em redes sociais: Novos estudos mostram que é mais difícil resistir à tentação de acessar sites como Facebook e Twitter do que dizer não ao álcool e ao cigarro. 2012. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2017
MATTOS, Litza. Redes sociais prejudicam relações com amigos e família.2017. Disponível em: http://www.otempo.com.br/interessa/redes-sociais-prejudicam-rela%C3%A7%C3%B5es-com-amigos-e-fam%C3%ADlia-1.1431809>. Acesso em: 25 de julho
PIRES, Luciano. Bernie Dodge. 2012. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2017
Autor desconhecido. Significado de Offline. [S.D]. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2017
SCHWANTES, Thiago. Uso do celular pode prejudicar o sono. 2017. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2017
Você está em uma BOLHA SOCIAL? Descubra!. Felipe Castanhari. São Paulo, 2017. 06:44 minutos. Disponível em: . Acesso em : 4 mar. 2017
[1] Emili Sabrina Ribeiro Silva, acadêmica do curso de História na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul campus de Nova Andradina-MS, dissertação de artigo científico como atividade avaliativa na disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação ofertada pela Professora Mestra Camila Comerlato Santos.
[2] É aquela pessoa que faz vídeos para o YouTube. Disponível em:
[3] Para entender melhor sobre o termo segue o link do vídeo Disponível em:
[4] A webquest é uma metodologia de pesquisa orientada da web, onde quase todos os recursos utilizados para a pesquisa são provenientes da própria web. Disponível em:
[5] É um termo da língua inglesa cujo significado literal é fora de linha e também pode qualificar alguma coisa que está desligada ou desconectada. Disponível:
[6] Psicóloga do Núcleo de Dependências Tecnológicas e de Internet do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas/FMUSP desde 2007. Disponível em: